domingo, 29 de junho de 2014

Do dia


Desenhando, esculpindo, intervindo, lendo, escrevendo e cozinhando. Enquanto desenho, na imagem salta um pensamento que tem necessidade de ser escrito. Ja impossibilitado de ver os traços, passo a esculpir dando pequenos espaços de tempo pra obra respirar. Leio... preciso comer... cozinha cantando.

No som: Elis, Legiao, EngHaw, Radiohead, Nirvana, Chet, Secos, Capelo , Pescado Rabioso,...


CIGA - RJ

Momento concentração (ou tentativa) no CIGA em abertura da exposição doAlexandre Mury, "Eu sou a pintura". Entre fotos, risos, cevas, pessoas, conversas e lá se vai...


http://www.artrio.art.br/pt-br/agenda/eu-sou-pintura-individual-de-alexandre-mury


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Qorpo Santo

 Qorpo Santo (1829-1883) foi um escritor/dramaturgo/gramático/professor/poeta/jornalista brasileiro geralmente associado como precursor do chamado teatro do absurdo. E claro, pouquíssimo conhecido. Há uma postura que o compreende como uma mistura do teatro brasileiro da época: a comédia de costumes + teatro realista + farsas portuguesas de Antonio José, gerando  uma obra única e dando o grande tiro antes das vanguardas do século XX.  Mas como o "Brasil não conhece o Brasil", assim vai matando o Brasil.

  Ontem a noite tive a sorte de assistir uma peça sobre sua vida-obra no Teatro Bruno Kiefer. Precisava arejar, ver alguma coisa que me alimentasse... Então caminhei pelo Gasômetro, ouvi duas bandas de rock que lá tocavam, retornei às Andradas e subi ao Teatro, sendo o último a entrar (já em tempo esgotado).
 Todos em cena (e eu mal conseguindo sentar), instrumentos de corda abrem o espetáculo(violino, cello, viola,... Sonoplastia/trilha sonora espetacular acompanhou a peça (que ia de gemidos/estalos com boca/batida de pé até sopro).

 Os primeiros cinco minutos dizem a que veio este homem: debochado, filosófico, professor. Os hilariante  delírios de Qorpo Santo, que adotou esse nome por pregar a castidade após o abandono da mulher e filhas, é um algo que acompanha a peça de início ao fim. Pela sua mania de escrever sobre tudo (não sendo um mal reconhecido pelos especialistas no Rio de Janeiro, declarando gozar de boa saúde), principalmente por querer gerir seus bens, a esposa entra com uma ação que põe em dúvida sua sanidade. Embora nove laudos negativos contra um, foi considerado louco pela justiça da província de São Pedro.

 Mais espetacular é sua "defesa" no tribunal gaúcho:
- Tu estás falando de sonhos, e aqui nos interessa a realidade. diz o 'especialista 1', o único a considera-lo insano.
- Na verdade, eu penso o contrário de meu colega, diz o 'especialista 2'. Para nós, interessam os sonhos, assim como para os artistas e loucos: onde tu te encaixarias?
- Oras! Eu não vou te responder pq este é o teu trabalho!

 Sendo assaltado algumas vezes, na última, resolveu pregar as portas de sua casa e usar uma das janelas para entrar e sair de casa (onde era posta uma escada). A cidade fala mais de seu método anti-furto, considerando "estranho/louco", mas não estranha a violência, os assaltos. Percebendo isso, mais uma vez ele escarnece.

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 Outro diálogo:
- A senhora é uma puta!
- Sabe que muitos dizem isso, mas eu ainda não me convenci?!?!
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 Assim. Espetacular e preciso. Quando vejo essas coisas, pergunto-me: quão gigantes seríamos se tivéssemos encontrado nossa história? A história de nossos iguais, de nosso entorno. Não apenas o jeitinho, a malandragem, a roubalheira, a colonia... mas e se pusessem sua preguiça de lado a fim de colocar a cabeça a funcionar, não apenar para o conforto... mas conhecer o que "foi feito para melhor prosseguir"?

 E eu vou desenhando e fotografando... deixando espaços vazios/abertos entre o indivíduo e o lugar/momento para me colocar a favor do conhecimento histórico: mínimo, edificador, autônomo.

 Uma das conversas/críticas sobre a escrita de Qorpo Santo, exposta em tom absurdo, faz a plateia gozar:
- Mas não me digas que tu vais ao teatro pra pensar?!?! Diz o 'especialista 1', como quem fala uma obviedade sobre o conforto do gozo a que todos desejam.

 O mais engraçado é lembrar quantas vezes eu já ouvi isso, mas retirando o "dispositivo" teatro, para rádio, tv e computador.
 Aiaiai.