domingo, 31 de agosto de 2014

Rob, o couro e eu

 Rob Halford é vocalista da banda Judas Priest, um dos responsáveis pela inserção do uso das roupas de couro no heavy metal. Tal fato já havia sido explorado de um modo mais ameno pelo rock rebelde sem causa e mais tenso/underground por bandas no princípio do punk ao final dos 60, provindas do "submundo" gay e rockers (motoqueiros dos 50').

 Para o ambiente misógino do rock, me foi confessado - com um ar interessado (de quem percebe a dificuldade em falar sobre este assunto) -, que o vocalista era homossexual. JP é uma das maiores/mais influentes bandas do heavy metal, junto com Black Sabbath/Iron, e este ponto entrou no assunto como introdução: Rob havia saído da banda nos anos 90' e assumido numa entrevista, por querer ser sincero com seu público, sentindo que isso lhe faltava.


 Quando me apresentaram o Judas, foi naquela frente/estilo de Painkiller: pedais duplos, solos/vocais estridentes, velocidade,..., um heavy que já tinha evoluído e passeado por várias vertentes. Só que um conhecido - sabendo que essas coisas não eram minha praia, me apresentou Don't Go, onde encontrei minha paixão. 
(sendo que a música era tida como bobinha diante da sua simplicidade).


 No entanto, adoro tudo nessa canção: o primeiro ponto dos instrumentais, as pausas (esse silêncio/vazio entre as coisas), a bateria marcada e a evolução para E soltura do refrão.



 No clipe, é possível notar que a banda parece personagens de uma história do Tom of Finland, tb seguindo uma linha passional não tão agressiva. Toda indumentária está em torno do couro, roupa que marca o corpo, quepe, luvas,..., quase um sado/maso.

 O vídeo começa com uma porta abrindo e em seu topo o nome do álbum, as luzes acendem e a banda parece estar numa ideia de sonho, com nuvens atrás e linhas que causam perspectiva e ilusões. Rob se encontra no canto direito guardando os óculos de aviador, se vira e passa a cantar direcionado para um dos integrantes. Doído, fazendo gestos pulsantes (contidos e esparsos), tão valente e certo de si diz: oras, alguém disse que você irá embora hoje! O que é isso que está fazendo comigo? Quão tolo está tentando ser? Dizendo nada mais que um monte de tolices... tentando colocar algo nas minhas costas.

 O outro dá de ombros e se vai. Indo até a porta, grita: não vá! Por favor, não me engane... não deixe isto acabar.

 Tão apaixonado, ele muda o discurso se tornando passional (no verbo e nos gestos): eu faria qualquer coisa por você (...), não me deixe só, eu não gosto disso.


 Outros saem deste "quarto dos sonhos", direcionando-se para desejos seus: tornar-se astronauta, outro um "médico" que irá brincar com as "coelhinhas" e o último um detetive de mistérios noturnos.

Obs.: Não pude deixar de lembrar de Cazuza, nesse clima de "sonhos": pra quem não sabe amar e fica esperando alguém que caiba nos seus sonhos, como varizes que vão aumentando e insetos em volta da lâmpada.



  Rob inconsolado no final, esticando o braço esperando um retorno (ficando no ar), termina esmurrando o nada, no que a porta se fecha.


---------------------------------

 Alguns acontecimentos foram um respiro, o circular do ar/brisa naqueles espaços que pela inexperiência de si (com o mundo) eu desconhecia. Mas tal alívio e gozar foram sentidos imediatamente - embora que por um curto período de tempo, sem saber como vieram, de onde vieram, pra'onde foram.



 Hj, quando dou um rewind na memória por aqueles tempos dos 16, consigo costurar muitas pontas soltas, não deixando de construir formas rizomáticas de pensamentos: como as coisas vão e voltam, sobem e descem, ficam numa paralela e ao mesmo tempo na transversal.


E embora não pudesse dizer, achei o máximo um símbolo mor do heavy metal trazer essa influência do "submundo".  Tb estranho pensar que em termos de música, Judas era uma das bandas quais eu podia circular mais à vontade entre os amigos e noite/shows... ainda que estivesse distante da minha lista de favoritos. Mas era preferível o heavy metal, speed, trash,..., a todo aquele princípio de gestão horrorosa que assola a música noturna atual, gestores estes que não encontram mais lugar nem nas prateleiras das americanas.


---------------


 Ontem o Contracultura na Cultura FM estava fazendo um especial sobre o novo álbum da banda... e há tempos estava com essa vontade de escrever sobre o Judas. Aproveitando os ares do novo.... pari.







obs: desenhos de Tom e fotos de Mapplethorpe.

Sid Vicious, da banda punk Sex Pistols usando uma camiseta com desenho do TofF




















sábado, 30 de agosto de 2014

Cada pelo


Nunca tive o coração tão leve, o corpo tão pleno e a mente considerando os mesmos quereres. Para a fuga de seu uso vulgar, não os fazer/fazia/faria morrerem na fala cotidiana ou no roteiro das mesmas esquinas, evitando passar essas palavras pelos lábios mas deixando transferir-se pelas mãos, toques e gestos.

Nunca tive o coração tão leve pra dizer o amor,..., a paixão - mesmo sentindo em cada pelo do meu peito uma espécie de absurdo. Em outrora nada sabia disso e era atacado por este súbito desejo que me fazia querer rezar corpos como pontos de um rosário, sentindo deus através deles.
Então era um encontro (no sentido de tensão) que se travava em mim, lembrando quando brincava com autofalantes traseiros de carros - aqueles enormes para uma criança - tentando separa-los no instante que se atraíam. E ontem, tive essas sensações que me eram tão peculiares nos pós-shows: entre eles os tratados de "quero colo, vou fugir de casa, posso dormir aqui com vcs?". E na diferença que o sopro me traz um cansaço qual eu não poderia arrumar o caos que armei nos dias anteriores.

Um horror, um horror. Quase abracei uns 300!

E eu penso: que bobagem e re-clamo. Re-clamo pq ainda considero os mesmos quereres e sei da minha responsabilidade nisso tudo que estou,..., no mais, sempre estarei re-clamando qualquer coisa, ainda que uma migalha, ainda que tudo, querendo um corpo como meu porto seguro: quero que teu corpo seja meu porto-seguro. Eu quero que teu corpo seja o meu porto seguro. Eu quero que teu corpo seja o meu porto seguro!
E pra quem acha pouco-inferior-menor, pois saiba que a tudo irei reencontrar quando esse passeio na terra ter seu fim.... menos o corpo: exato, doído, amado. E tudo o que ele faz de nós... concomitante a qualquer movimento.

Um absurdo! Um absurdo!

Não é preciso dois instantes a mais pra perceber a grandeza do momento, o que ele traz afinal... 
Só que por ora, sou rei do "antes só", pois não dá. Não dá. Não dá!
Se a solidão tivesse dimensões geográficas, eu seria a porra de um universo.
Putamerda!!! 

Fim do capítulo mariadobairro, mas que é sincero por demais.