sábado, 6 de junho de 2015

Gênesis IV

Foto: Fabiana Reis (Gênesis de maio)
Naquele trecho, a Augusta sofre uma queda que “obriga” qualquer criança a correr provocado por um desejo de se sentir veloz junto da inclinação que impulsiona o caminhar. Estava transitando nestes módulos de movimento e pensando sobre o case do violão quando, de repente, imaginando grita:
Daí, Mateus! Que bom que veio. Estávamos te esperando pra tocar em primeiro lugar! Haha. Tá lá o quadro.

Maravilha das delícias, gentileza é coisa dos fortes.


Receber um “olá”, vindo com seu nome e uma sentença convidativa é tipo, encontro das paixões... especialmente considerando a situação de estrangeiro em terras bandeirantes.
{{{Um tempo atrás, certo rapaz tendo me visto diversas vezes andando sozinho em bares e, ainda assim, conversando com todo mundo, me contou que ele e seu ex me chamavam secretamente de “Lobo Solitário”. Ri pacas.}}}

Desta vez, apenas o primeiro lugar estava vago e o quadro já quase completo. Como na primeira empreitada 'eu tinha aparecido no horário de abertura, esperei um tempo até a coisa começar, e aproveitei para me entrosar naquela ocasião.

Fui direto resolver a questão da mesa de som pois usaria o iPad como instrumento e então em seguida afinei o violão. Queria ter garantido que o dispositivo funcionaria pelo menos mecanicamente. Na coxia/área externa estavam dois músicos fazendo uma jam, sem antes não terem tomado um susto com a minha presença, coisa que valeu uma brincadeira – não posso contar aqui por ora – e desatou qualquer ignorância que tínhamos a respeito um do outro: empatia total.

Da outra vez 'eu fui pelo ímpeto e obrigação comigo mesmo. Desta, pela vontade de permanecer.

Outras conversas, encontros, apertos de mão. Revi o Denis e comentei sobre seu trabalho fotográfico com le parkour, luzes e tal; Participei de um jam tocando Bad Moon Rising e ouvi outros sons após incursões e arrumações. Incrível estar ali com aqueles músicos brincando, conversando, fazendo fotos, ouvindo, flaneu'ando,..., algumas pessoas a fim e dispostas a se misturar.

O Hugo veio dizendo para que me preparasse: por conta do quadro já cheio, começariam antes do previsto. Fui lá acertar os cabos, duas cadeiras (uma pra colocar o iPad) e me meti por ali antes do Ricardo fazer os anúncios no microfone.

Pensei em iniciar com uma frase que muito uso nos trabalhos plásticos, só que pensando na confusão que poderia ocorrer com cabo do iPad, pelo fato do aparelho estar do lado esquerdo e eu sendo destro (tendo que atravessar o corpo do violão pra tocar na tela); errar o tempo dos loops (o que cagaria o restante dos versos)... enfim. Soprei: 

- Boa noite. Isto é uma coisa que pode dar muito errada, mas tb muito certa. 

Resolvi atacar um cover (Psycho Killer) e outra própria (com um tema instrumental no início). Ter tocado InKava's no 'meu primeiro encontro me ferrou pelo dedilhado acompanhado do nervosismo. Seria melhor mandar um acorde fechado, bruto, com paletada. A opção por Talking Head veio pelo fato de que adoro interpretar essa música e pela sequência de base eletrônica que construí. Principalmente pq muito queria experimentar ao vivo (não mais em ensaios) o uso do iPad como instrumento.

 Batida começando, ataquei o violão. O canto veio natural, ora melodioso ou rasgado. Estava flutuando na canção completamento absorto e distante dali... olhando pra baixo me sentindo num lugar isolado e bom. Posteriormente lembrei de uma noite no ano passado em que Jean chegou e 'eu estava sentado na cozinha tentando melhor arranjar uma canção. 

- Que som bom. Vc não me viu aqui? 
- Não! 
- 'Tô aqui faz um tempo... 
- É que não enxergo do olho esquerdo, então não te vi. 
- Não acho que seja por isso. Quando vc está concentrado em algo sempre se vai pra outro lugar... 

De volta ao Gênesis, percebi que pelo andamento da canção tinha entrado no momento correto. A última vez que a interpretei deste modo deve fazer no mínimo dois anos... então eu 'tava aberto a possíveis cagadas. Passeando em pensamentos, cheguei no refrão e ouvi um uníssono da plateia: PSYYYCHOOO KILLEEER, QU'EST-CE QUE C'EST? (…) Daí, não pude mais me sentir sozinho, nem correr pra fora, nem nada. Se antes deslizava no violão e iPad, ouvir a voz do outro se juntando foi algo bonito. É possível que eu tenha ficado com a mesma cara de besta quando vi a Mariana Peter York (paixão da adolescência) diante de um disparo fotográfico que ela cometeu na minha direção à pedido de meu grande amigo Arthur (ao final de uma convenção): casos do acaso. Quando revelei o filme estava 'eu de boca aberta completamente bobo e o Twique com uma cara de “não acredito?! É ela a guria?!”.

Com sorte mandei outra, pensando muito neste caro amigo.

Cheguei a compor compulsivamente centenas de canções e outras centenas mais de letras. Temas instrumentais, canções em diferentes partes ao estilo progressivo, longas pacas, curtas, pesadas, baladas, conceitos de álbuns, capas,... Registrava tudo em cadernos, fita k7, mp3 player, vhs, words e o que mais fosse chegando. Depois, meio que cansei de compor e passei a pensar os arranjos (muito inspirado na música brasileira).

Em alguma conversa destes anos, Arthur me lembrou que a canção que mais curtia era “Taças”. A gente tinha uma provocação sadia neste processo de fazer música e curtíamos o que um e outro gerava. Embora esta canção seja um tanto melancólica, em homenagem ao amigo decidi incluí-la quase na íntegra (senão seriam uns nove minutos e haja paciência, embora o público ali estivesse bastante receptivo). Retirei um trecho da parte inicial e a última parte da canção (que era a explanação da consciência do auto-sabotar). Na verdade eu nem fiz o loop pra essa parte pq ela é demasiada fria, espanhola, rio grandense (entre tango e sapateado). Confuso, rápido, ligeiro... começava com uma milonga, evoluindo pra um trip hop e deveria acelerar o andamento. Muito trabalho pra um homem só!

Já tendo comido Caetano, bem sei: meu coração vagabundo guarda o mundo em mim. Fiquei tocando pensando no amigo, em sua esposa e nos nossos tempos de adolescência alheia ao mundo; da porção de coisas que fizemos e não vingaram (do modo que queríamos) pq simplesmente estávamos na hora e no lugar errado. A Ilha naqueles dias tinha uma possibilidade de abertura cultural absolutamente incrível e incrivelmente criativo. Mas entre o penoso e o assimilável, parece que a cidade preferiu o segundo. Acredito que algo pode eclodir lá, especialmente depois de colocar toda aquela galera (e quem mais surgiu) cozinhando na pressão por estes anos todos. De qualquer forma, se me perguntarem 'eu responderei: acho tudo ótimo!


Assisti até o primeiro momento do pocket show (no final da noite). Embora houvesse aquele tipo típico de músico que se acha a grande atração (a ponto de não ouvir nada mais do que a sua própria voz a cantar), tinha uma galera super interessada. Isso foi que me fez voltar com a alma lavada. Combinei algumas coisas com umas pessoas e conversei com outras sobre mil assuntos. Dei um toque no Ricardo sobre mandar um feedback deste evento, apenas arestas a aparar... julgo tal atitude (minha, de escrever a eles) necessária pq a gente precisa desses espaços... e melhor ainda quando surge uma penca de gente boa, a fim e FAZENDO!


Fotos de Denis Sitta

Alguns trechos da noite



























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terça-feira, 2 de junho de 2015

O véu



Aquilo foi uma espécie de suruba do carinho: havia um véu suspenso sob aqueles que arrastavam pés pela pista e que, aos poucos, fora caindo acidentalmente e encostando na cabeça de 'nós. Deliciosa ideia que ronda, começamos (entre uns 7) a tocar e usá-lo numa dança coletiva: primeiro a nos enrolarmos, depois enrolando uns aos outros. Tudo num tocar de rostos para sentir como ficava a pele e seu contato friccionado naquele pano. Braços negros, brancos, morenos e cabelos castanhos, loiros, ruivos,...

Depois da espera por alguma brecha (e muitas transas com o véu), já estávamos peritos na brincadeira. Em cada extremo, uma pessoa começava a se enrolar e dançar, de modo que havia um encontro entre as duas na metade. Finalmente, finalmente e finalmente, junto àquele a quem eu desejava, estávamos cobertos dos pés à cabeça, frente à frente. Tão próximos quanto não podíamos evitar, eu lhe disse:
- isso me lembra um quadro, "Os Amantes" do Magritte.
- não lembro, não sei se conheço.
- há um casal... eles tb estão com um pano coberto na cabeça mas se beijando.

Não foi preciso nada mais e nada foi mais preciso que puxar tal pensamento: fizemos Os Amantes numa curtíssima temporada. Desenrolando o véu saindo do intermédio com uma avidez foda, ele tomando primeiro partido, dando um passo e um sinal que algumas canções atrás eu tentava perfurar/encontrar. 
- eu achei que íamos precisar de mais alguns metros desse pano, tava demorando! Respondeu.

Ah... e tem quem ache que estudo e pensamento não seja coisa das maiores diversões.
Aiai.





domingo, 24 de maio de 2015

Gênesis (Augusta)

Naquela manhã, recebi um e-mail falando sobre um palco aberto que haveria na Augusta. Embora soubesse que precisava ir, tb era de conhecimento próprio que poderia sabotar a empreitada. A sensação sinuosa de que não se está pronto age histericamente em algumas situações, embora no mais ela seja devidamente calada. No entanto, existe... habita em mim, não fosse pelo mais complexo sentimento que se sente na pulsão do ato. 

Mas eu deito com meus medos de modo íntimo, na mesma cama, sob o mesmo cobertor. À convite, por namoro, por sexo (com camisinha)... e incansavelmente escreverei isto: não sou da dualidade, então não há pq enfrentá-lo. Não dou rivotril, maconha, cigarro ou cerveja a ele... dou sexo, carinho, atenção. Digo: pois olhe, mesmo que dê tudo errado... o melhor é fazer. Na dúvida, faça. Entre choros, tremores, dedos roídos, unhas no talo e modos de avistar qualquer segurança, acontece que um homem ao mar só tem um desfecho.

Ainda que a razão quisesse acalentar o receio - me inscrevendo em quarto lugar, talvez os outros estivessem mais temerosos (ou ávidos de seu público) que eu, de modo que fiquei sendo o primeiro a tocar o par de suas canções.

Assim foi, assim retorno.


Fotos de Denis Sitta











sexta-feira, 15 de maio de 2015

Plectro Spectro - Gênesis de Gênios

 O Palco Aberto, uma noite open-mic, tem sido uma surpreendente revelação de músicos autênticos de São Paulo. Grandes parcerias estão sendo forjadas nessas noites. A casa é elegante, moderna e o ambiente ferve com criatividade e bom gosto. www.plectro.com.br/palcoaberto

 Vídeos no link abaixo:





https://www.facebook.com/events/425407114307877/
obs.: não sei o nome dos que estavam se apresentando no momento.





domingo, 10 de maio de 2015

Drops de Elis V - O Brilho Gêmeo das Estrelas: Elis e Gal

Embora trilhando caminhos diferentes, cada vez mais as duas vão se aproximando. Uma gaúcha e outra baiana, dois temperamentos artísticos e pessoais quase opostos, e cada dias as duas deusas do canto perfeito se aproximam através de seus recentes trabalhos.

 Tanto gal como Elis andaram às voltas com profundos mergulhos pessoais em busca de uma (inatingível) perfeição técnica. Ajudadas pela vida e pelo instinto, rapidamente evouíram de uma preocupação formal com o canto para uma integração das emoções humanas, dos espantos, dos riscos e até das falhas em seus trabalhos - que com isso ficaram sensivelmente mais intensos e humanizados, já que não há nem nunca houve qualquer dúvida quanto aos raros dons vocais que abençoam as duas mulheres, entre as intérpretes brasileiras.

Não se pretende - e seria bobo e inúti - um confronto entre as duas. Procura-se hoje encontrar os cada vez maiores pontos de contato entre uma e outra, que até há algum tempo eram quase que representantes de tendências opostas dentro da música brasileira. À medida que Gal adquire cada vez maior intimidade e profundidade em suas incursões pelos caminhos de uma música brasileira de raízes populares, Elis vem desenvolvendo uma crescente aproximação com os novos ritmos brotados da idade do rock e em seus últimos LPs realiza notáveis performances no gênero, a ponto de sua interpretação de Velha Roupa Colorida, de Belchior, ser ouvida e lembrada como uma das melhores gravações (senão a melhor) de rock jamais feitas no Brasil.

 Tanto uma como outra, na condição de intérprete, lutam eternamente com o problema de "o que cantar", já que não possuem repertório próprio e precisam constantemente buscar ou encomendar aos compositores o que será o material para as gravações e shows. Como duas grandes e prestigiadas intérpretes, Gal e Elis acabaram por encontrar uma sólida estrutura de apoio em Milton Nascimento, Ivan Lins, João Bosco (Elis) e Caetano, Gil, Jorge Ben (Gal), sempre presentes nos discos das duas - como base e identidade.

 Tanto uma como outra vivem a permanente preocupação de revelar novos autores - o que vêm conseguindo frequentemente, se bem que nos trabalhos recém lançados nenhum compositor novo parece destinado a horizontes tão brilhantes quanto os atingidos por Luís Melodia (via Gal) ou Belchior e João Bosco (via Elis).

Uma de libra e outra de Peixes, Gal e Elis estão na mesma faixa de idade e - cada uma de seu lado - andaram vivendo nos últimos anos o mesmo tipo de problemas em relação virtuosismo vocal e a definição de repertório. Com "Falso Brilhante", Elis deu um dos mais belos e altos saltos de sua carreira, encerrando um ciclo de brilhante mas quase soturna busca da perfeição formal em detrimento da emoção espontânea. Com "Cantar", Gal viveu igualmente um dos momentos mais sombrios de sua carreira que vinha ponteada por momentos incandescentes com "Fa-tal" e "Índia". Em seguida, quase como uma mágica solução para seus problemas, surgiu o impecável e emocionante "Gal Canta Caymmi", que reintegrou-a nas suas profundas bases populares de canto e permitiu-lhe algumas crianções antológicas como "Só Louco", "São Salvador" ou "Festa no Mar"; emoção humana, belezas da espontaneidade, do gesto e do momento. Perfeita forma.

 Na raiz do canto de Elis, Ângela Maria. No de Gal, João Gilberto. Bahia e Porto Alegre. Uma imagem agressiva e uma aparência de timidez. Duas mulheres decididas e excepcionalmente rigorosas com elas mesmas. Duas intérpretes de timbres e estilos diversos, duas mulheres de posturas muito diferentes diante da música e da vida - com o passar do tempo e da experiência cada vez mais próximas, via talento e personalidade original. Pode-se facilmente imaginar um delicioso jogo que seria Gal cantando o repertório atual de Elis e vice-versa: com absoluta certeza idêntico brilhar: as duas hoje em dia se conduzem com igual desenvoltura pelos mais diversos gêneros e tendências, livre e maduramente.

 Essas duas grandes artistas, essas jovens e maduras artistas, são um exemplo vivo da atual riqueza da música brasileira, ao colocarem um raro virtuosismo vocal a serviço de repertórios muito distantes; lado a lado através da indiscutível qualidade de suas intérpretes.

 São apenas algumas observações superficiais sobre as duas, que merecem com certeza análises mais profundas, principalmente se colocadas lado a lado as duas carreiras e os atuais trabalhos - longe do confronto e próximas de uma busca de pontos comuns entre essas duas intérpretes definitivamente incomuns.

 E que sonho maior que ouvir, um dia, Gal e Elis cantando juntas!

 Música Humama Música, Nelson Motta, 1980









Drops de Elis IV - Declarações

 No documentário produzido para a exposição Viva Elis (2012) Nelson Motta (a respeito de Montreux), afirmou que "o público gostou, mas não adorou". Se esses aplausos/voltas/pés/bis são apenas de quem "gostou", então como seria se tivessem "adorado"??!?!?



Drops de Elis III - Hermeto & Elis

 (...)
 No meio da gritaria, Claude Nobs chamou de volta à cena Hermeto Pascoal, que assistiu a todo o show de Elis na coxia. Recebido com espetacular ovação, o bruxo albino se encaminhou vitorioso para o piano enquanto, de surpresa, Claude chamava de volta Elis Regina! Sempre altamente competitiva, Elis sabia que tinha perdido a noite para Hermeto. Frustrada e furiosa, entrou no palco pisando duro e sorrindo tensa para o público. Silêncio total, piano e voz. Hermeto começa a tocar "Corcovado" e quando Elis começa a cantar suas harmonias começam a se transformar, dissonâncias surpreendentes começam a brotar do piano, é cada vez mais difícil para Elis - ou para qualquer cantor do mundo - se manter dentro da mesma tonalidade, tantas e tão sofisticadas são as transformações que Hermeto impõe, tornando o velho clássico quase irreconhecível, genialmente irreconhecível. E Elis lá, respondendo a todos os saques do bruxo com uma precisão que o espantava e o fazia mudar ainda mais os rumos de uma canção não ensaiada. Na corda bamba e sem rede, Elis cantava como uma bailarina, como uma guerreiro, como um músico. Hermeto arregalava seus olhos vermelhos atrás dos óculos. Elis crescia a cada nota, à cada frase de seus improvisos e scats, a cada compasso de seu duelo com Hermeto. Foram delirantemente aplaudidos. Quando Hermeto começou a tocar "Garota de Ipanema" (que Elis odiava e jurava que jamais cantaria em sua vida) ela baqueou. Mas logo se recuperou e cantou, com todo vigor, como se fosse a última música de sua vida, virou a música pelo avesso, cantou uma vez toda em inglês, com sotaque perfeito, imitando uma menininha dengosa, rindo e debochando, provocou Hermeto, voou com ele diante da platéia eletrizada. Com o público de pé, "Asa Branca", Elis e Hermeto no round final, o baião de Luiz Gonzaga em ambiente free-jazz e atonal, harmonias jamais sonhadas se cruzando com fraseados audaciosos de Elis, trocas bruscas de ritmo e andamento, propostas e respostas, tiros cruzados, arte musical de altíssimo nível protagonizada por dois virtuoses.(...)
Nelson Motta, 2001

Esta é a versão de Nelson para o ocorrido em Montreux. Como particularmente eu havia escutado primeiro a entrevista que a cantora dera para Walter Silva (em sua casa após os shows fora do Brasil, no Alto da Cantareira, "uma casa acolhedora e muito simples com um bom gosto incrível", segundo o entrevistador), eu fiquei com uma impressão completamente diferente do ocorrido, somado aos próprios vídeos do evento. Nesta entrevista, Elis não nega o lançamento do disco (mencionando-o inclusive*), falando também sobre o seu nervosismo no princípio da apresentação. Mas diz que logo seguido aos aplausos percebeu que tinha o público em sua mão e mandou bala (nervosismo este por estar naquele lugar, naquele palco, onde pisara tantos ícones, sendo ela filha de lavadeira e pai operário).

 Hermeto teve de desmentir esta história tantas outras vezes mais. "Muitos dizem que eu queria derrubar a Elis. Mas seu eu tivesse feito qualquer coisa mal intencionada, ela sairia do palco".  Elis (na entrevista ao Pica-Pau) também menciona a dificuldade dos tradutores compreenderem a forma como o Bruxo se expressava (a fim de traduzir para a língua japonesa, por exemplo), e que junto a César (salvo engano) interviram algumas vezes para que não parecesse que Hermeto estava tendo uma atitude jocosa. Isto é: amizade e respeito não parecem ter faltado naqueles encontros.

 No documentário feito para a exposição itinerante de Elis em 2012 (qual foi prometido lançamento, não esqueçamos), Hermeto revelou que algumas pessoas não compreendem a maneira dele tocar,buscar acordes, notas, sons e por isso, pensam que ele quis derrubar Elis no tal "duelo". Para o livro que foi gerado através dessas entrevistas, ele disse:

 Nós fomos pegos de surpresa. Eu e a Elis ficamos no fogo. Aí veio o respeito, meu e da Elis, para com o público. A gente esqueceu de qualquer outra coisa. Eu nunca tinha tocado com ela. Fomos lá, entramos e quebramos tudo. Foi uma dádiva, um negócio que eu agradeço até hoje a Deus. Foi Deus quem colocou a gente para eu me despedir dela. Para isso, quando ela canta "Asa Branca", ela diz um verso "Adeus, Hermeto, guarde consigo todo meu coração". Houve coisas ditas por aí, em entrevistas. Alguns acharam que tentei derrubar a Elis Regina. Há pessoas que acham que improvisação é premeditação. Mas já tem o nome certo: é você esperar, ouvir e tocar. Foi tudo de improviso. Até o encontro da gente. Tem hora que faço uma harmonia diferente. Sempre faço coisas diferentes, mudo a harmonia e tudo. E a Elis deu um show de musicalidade. Para ela, foi surpresa também. Eu procurava os acordes, e ela esperava eu ajeitar a sequência de acordes... e ela pegava legal, na hora certa. Foi um banho. Ficou no livro de Deus. Tem muita coisa distorcida sobre isso. Ninguém fez um som com ela, no mundo, como eu fiz. E sem ensaiar com ela. E o que acontecei comigo e a Elis só teve um ser que sabia que ia acontecer: Deus! Ninguém na Terra sabia.Nem ela, nem eu.
Hermeto Pascoal, em Viva Elis.

 Este episódio é um dos que mais me encanta na carreira de Elis. Primeiro pelo fato de eu ter ouvido esse show sem as impressões de Midani-Motta, percebendo que sim, é um putadisco e Elis está deslumbrante nele! As versões (tarde e noite) de Cobra Criada, Cai Dentro, Madalena, o espetáculo do Medley Ponta de Areia+Fé Cega Faca Amolada+Maria Maria (e a incorporação de Elis aos batuques da percussão), Upa Neguinho, etc. Até mesmo a guitarra falhando em Corrida de Jangada acho uma delícia. Fato este que serve para repensar o tão mencionado perfeccionismo da cantora, sendo que modelos de imperfeição não faltam em áudios. Tanto por parte da mesma que errou afinação em algum momento, letras de canções ou seus músicos. Mas esta aqui chamada "imperfeição", de modo algum diminui a arte ou agride os ouvidos. Muito pelo contrário: mostra a busca, o processo, o desejo de chegar a lugares onde poucos tem coragem de ir.
 É claro que tem canções neste especial onde se percebe os problemas (exemplo de Samba Dobrado), mas em nada prejudica a audição.
 Segundo lugar, me encanta pq mostra como muita coisa foi/é dita de forma a querer criar polêmicas, picuinhas entre artistas e coisas afins. Hermeto e Elis são dois gênios, semi-deuses da nossa arte,..., e querer olhar e pensá-los vulgarmente, é no mínimo inocente. E ter estado na presença de ambos, não significa guardar a verdade destes momentos pra si, acima do entendimento dos mesmos.



Entrevista 




Porque ela não queria, porque tirando os números com Hermeto, ela achava que o resto não valia a pena, não tinha cantado bem. Achava que tinha chutado um pênalti para fora. De volta ao Brasil exigiu de André umjuramento de que nunca lançaria aquela gravação, nunca, nem depois que ela morresse.




Drops de Elis II: Miele

O caso é que o Ronaldo tinha decidido: vou tirar essa menina do show. Não importa se ela canta bem ou não. E pegou a lata de piche que estava ali ao acaso e borrou o nome da Elis Regina com brocha. "Pichar", desde então, no meio artístico e em todo lugar, virou sinônimo de falar mal das pessoas. Mais do que isso, ele substituiu Elis numa viagem para a Europa, patrocinada pela Rhodia, cheia de shows que dirigíamos. E fez pior: botou a Nara Leão no lugar dela. A Elis ficou uma fera, com toda razão, e aí deixou de falar com a gente. Eu, sem culpa no cartório, levei as sobras.

Ainda com esse mal estar, fomos convidados para uma noite de festa na casa de Nelsinho Motta, na rua Paissandu, onde havia um excelente piano de cauda. Sabe que essa rua, durante o Império, era calçada de madeira para que as carruagens transitassem por ali sem trepidação? Na festa tinha muita gente importante, ligada ou não à música. A certa altura, o Luizinho Eça vai para o piano e, de repente. Elis chega perto e começa a cantar Minha, de Francis Hime e Ruy Guerra. Virou um ritual religioso. Todo mundo sentou, pediu silêncio. Era uma voz, um momento de beleza único: Elis Regina e Luiz Carlos Eça. Eu estava numa outra sala com a Wanda Sá, contando uma história engraçada e ela deu aquela risada, acrescida da minha. Soou como sacrilégio naquele momento. Alguém gritou: Cala a boca, palhaço!

Elis acabou, foi muito aplaudida. O cara que tinha gritado, e que não sei quem é até hoje, é o responsável por minha carreira. Falou assim, de longe: É um otário mesmo, fica rindo aí, contando piada. Pare com isso. Por que não vem contar para todo mundo ouvir também? Vem logo aqui!. Respondi que ia e fui. Ficou todo mundo apavorado, pensando: O que é que a Elis vai pensar disso tudo no meio do seu show? Esse cara pirou de vez! Mas Elis, para a surpresa geral, principalmente minha, falou: Calma gente, vamos ver o que o Miele vai fazer. Engraçado é que eu não tinha nada para fazer, tampouco canções preparadas. Mas disse: Deixa comigo. Elis sentou-se no chão. Ao fazer isso me desculpou a ofensa, a falta de educação com ela. Todo mundo então relaxou. O Eça começou a fugir do piano, mas eu não deixei: faz aí um fundo concertista russo!

E montei uma história qualquer do russo que gostava da bailarina, que matou com uma flecha, colocado no arco do violino. Em vez do arco do violino, usou a flecha e acertou o pescoço do regente que era amante da bailarina. Elis gargalhava. Cantei uma canção russa de araque - inventei a história, plagiei a música. Bem, no dia seguinte, estávamos tentando achar um artista pra compor um show da cantora Tuca, no Rui Bar Bossa, e a meta era o Agildo Ribeiro, que se não me engano andava ocupado interpretando O auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. O estalo partiu do Ronaldo:
- Rapaz, não precisa procurar ninguém, faz você mesmo!
- Faz o quê?. 
- Faz uma besteira igual àquela que fez para a Elis. Vai lá e conta suas histórias do seu jeito.

Faltavam cinco dias para a estreia do show da Tuca. Recolhi mais ou menos as bobagens que iria dizer, ensaiamos uns três números musicais.
(...)

Trecho do livro Miele, Luiz Carlos Miele

Plus:
http://revistatrip.uol.com.br/171/especial/miele/01.htm

http://jcnavegador.blogspot.com.br/2009/03/elis-regina.html

Drops de Elis I - Show Falso Brilhante

"(...)
 Uma coisa inusitada aconteceu.
 A lotação da casa era totalmente adquirida por companhias de turismo, que frequentavam ônibus e traziam pessoas de outras cidades para assistir ao espetáculo, depois jantavam e voltavam nesses ônibus, equipados com uisquinho a bordo e tudo o mais. Mas, com isso, o público local não poderia assistir ao espetáculo... se não fossem os cambistas. A confusão na bilheteria do teatro começava logo cedo diariamente. Público e cambistas versus companhias de turismo versus polícia - a ação dos cambistas era sempre reprimida. Eles revendiam os ingressos pelo dobro ou pelo triplo do valor, mas estavam garantindo ingressos para boa parte do público que ia ao teatro comprá-los.

  Um dia, presenciamos um verdadeiro massacre da polícia sobre os cambistas, perante toda aquela gente na fila e no saguão do teatro. No dia seguinte, Elis procurou o chefe dos cambistas, o Silveira, e promoveu uma reunião no saguão do teatro, às 5h da tarde. Firmaram um acordo. Eles comprometeram a não majorar a venda de ingressos em mais de 5% acima da bilheteria, e, em troca, Elis conseguiu uma espécie de alvará para eles. Por mais de um ano, puderam agir ali, livres da perseguição e convivendo pacificamente com as companhias de turismo.

 No dia do aniversário de Elis, estávamos bem no início do espetáculo quando, de repente, ouvimos um barulho enorme, e a porta da entrada do teatro se abriu bruscamente. Paramos. Umas 30 pessoas invadiram a plateia, com os seguranças tentando impedir, e vieram em direção ao palco... trazendo várias corbeilles de flores, um enorme bolo e uma placa de bronze, com os dizeres: para a rainha dos palcos, dos reis do Asfalto. Assinado, Os Cambistas.

 Foi uma festa. Elis dividiu o bolo com eles, com a plateia, com o elenco e, depois de mais de meia hora de interrupção, pediu que todos se sentassem perto do palco, e reiniciamos o espetáculo."

Solo, memórias - César Camargo Mariano


Maria Rita - Canto Encanto Tanto

Maria Rita canta Santa Chuva e fala das críticas que recebeu em sua carreira e o fato de ser filha de Elis.






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No céu da vibração

























































































No Setlist


Estava eu lá, sentado bonitinho lendo a HouseMag com o Fatboy Slim na capa, atraído principalmente por um artigo com o nome de "O Indie é o novo Pop?". Ao som, Elis em Montreux; quando lendo o Editorial de Davi Paes e Lima, deparo com a seguinte frase: "(Fatboy Slim) derreteu-se elogiando o Brasil, inclusive a nossa música (sua última descoberta foi Elis Regina)"

À Rolling Stone, o super DJ disse <"tenho ouvido algumas músicas dela e me apaixonei”, conta. “Elis cantava com a alma.">.

O mais bacana, é que o moço liberou o set. É só entrar em seu site, colocar seu e-mail, acessando-o e o link é liberado. Clique aqui.






1. Vou Deitar e Rolar – Elis Regina
2. Fuckie Fuckie Samba – Bellini

3. Billie Jean Was Here – Bastian Van Shield
4. Spades – His Majesty Andre
5. Bad Davis – Stefano Noferini
6. Afro Secks- Phuture Disco Funk
7. Antem- Black Rose
8. Clandestino (Riva Starr mix) – Manu Chao
9. Tutu – La Fuente
10. Let the Bass Kick in Brasil – Chuckie
11. Jungle Wars – Oui’Wack
12. Seven Nation Army – White Stripes
13. Soul Heaven (Dave Clarke mix)- The Goodfellas
14. Clubs – His Majesty Andre
15. He’s Frank 2011 – BPA/Hysteric Ego


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MTV Clássica - Cantoras Pop

Quer bom humor? Ok, tem! Quer um bom humor bacana sem precisar ser apelativo? Então que espera?! Quer ouvir música sem preconceitos? Vem que tem! Quer ouvir música sem preconceitos e ainda assim ausente do filão da mesmice, do apelativo, da fórmula óbvia? Sinta-se em casa.

Aqui está um programa que falará do pop clássico. Então, é,..., isso mesmo! Não é difícil imaginar que bicho seja esse. Como dizem os Engenheiros do Hawaii: o pop não poupa ninguém (bem lembrado no programa, claro!).

Carmen Miranda, Cher, Madonna, Supremes, Bardot, Elis; Shania Twain (o disco de uma artista feminina mais vendido de todos os tempos); Britney, Wanessa (Camarguin') Celine, Whitney, Sandy, Rita Lee; O pop clássico, as divãs, a rainha. Tudo numa boa.





O show de todo artista tem que continuar


A galáxia da nação brasileira ficou repentinamente enevoada e sombria: apagou-se a estrela de Elis Regina.

Era uma cantora formidável, dona de um estilo, de uma musicalidade, de uma técnica tão sensíveis que faziam dela, muito mais que uma voz, uma personalidade fortíssima no ambiente musical. (...) Elis era uma dessas artistas marcadas por uma fome insaciável de beleza, numa permanente busca de perfeição. Tinha uma aptidão especial para enxergar aquilo que os outros não viam - e não apenas através de recursos técnicos, como a sua insuperável 'divisão'. Era capaz de transformar em rarefeita emoção aquilo que poderia ser apenas pieguice vulgar; era capa de dar a impressão que pairava acima do comum da humanidade, com suas interpretações de uma cristalina distinção. Sua voz era um dom; um presente dos deuses, que ela resolveu não deixar intocado, e sim burilar, burilar cada vez mais, até a exaustão.

Na área do espetáculo, Elis é a estrela do mais belo e importante show de música popular jamais apresentado no Brasil: "Falso Brilhante", o espetáculo de Miriam Muniz e Naum Alves de Souza, pode muito bem ser considerado como um marco; há o que foi feito antes e há o que foi feito depois desse deslumbramento. O espetáculo tinha a cara de sua protagonista: intenso e profundo, irreverente e malicioso, emocionante e brigão. E, no instante em que colocava na cabeça o elmo de Dom Quixote, o palco se transformava numa síntese entre a cantora e seu inspirador. (...) Viveu num arrastão; como um equilibrista.

Flávio Rangel, na Ilustrada em 20 de janeiro de 1982.
Quase trinta anos depois, podemos dizer que ess estrela brilha, e mui intensamente. Separo aqui algumas matérias que saíram sobre a Pimentinha.



Marcelo, agradeça a Carminha Pereira. Particularmente, exalto a sensibilidade que ela teve ao fazer essa entrevista. Não só competência jornalística, mas também um sacada deliciosa. Consegue transmitir uma fome pelo momento, que até em seu último segundo devora Elis; sem tréguas.


quinta-feira, 19 de março de 2015

Magliani - das Artes

Renato
São Paulo continua sendo o lugar onde 
as coisas acontecem para quem tem dinheiro 
para fazê-las acontecer. Talento não é o suficiente 
faz muito tempo. E em toda parte.
Há anos não tenho mais como sustentar a pintura. 
ultimamente não tenho como sustentar a mim mesma. 
A São Paulo civilizada, da qual continuo gostando muito 
ainda existe, mas não é para minha bolsa.
Não tenho saúde para esperar milagres a esta altura da globalização. 
Até quando sem dinheiro para pegar um ônibus? Como voltar de uma galeria do o
utro lado da cidade, norte, sem dinheiro para o táxi? 
Cansei de não ter condições de sair daquele lugar miserável 
em todos os sentidos onde fui parar. 
Cansei de tentar contato com pessoas que me ignoram sistematicamente. 
Cansei de passar fome, de fazer conta no bar, pra comer sanduíche. 
Cansei de pagar juros no banco por pedir empréstimo p/ comer. 
Cansei de não ver chance de ir no cardiologista, podólogo, de comprar um livro, 
ir a ópera, ao ballet, ao teatro. Contar moedas pra ir ao cinema p/ não enlouquecer (...).




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A galeria disponibilizava um espaço para leituras, com uma biblioteca dos grandes e principalmente merecidos nomes da arte, claramente fugindo da história básica. Neste meio, pedi uma indicação, de alguma coisa que ela considerasse pungente.

Não precisou de um segundo a mais para que atacasse a estante atrás de um livro. Eram tantos tão tarados que lhe saltavam em frente aos peitos, mãos, nos dedos, que volta e meia passou a se perguntar onde estaria, e lamentavelmente um "SE ainda disponível" lhe rondava o texto. Até que felizmente encontrou.

Buscou nas páginas alguma entrevista que pela empatia disse sem qualquer chance de erro: tu vais adorar! No entanto, o livro tb a traia e nada encontrava. Desistiu, entregou-me dizendo que precisava conferir por inteiro.

Sentei na poltrona e a primeira imagem/obra já me deu sede de tudo: quero ver! quero estar na presença de um destes!!! Fui revirando, revirando,..., até que me deparei com esta carta que me ceifou o peito: quão amargo estava sendo aquele instante?!? Precisaria de mil câmeras para ordenar/gravar as mensagens visuais que me passaram e se confundiram com um choro impossível de conter.

Além de toda a poética visual, a fala daquela mulher me pegou pra sacolejar nas mais diversas sensações. Tentei me pensar negra, artista, moça, senhora, mulher. No desejo, no amor, nas sistemáticas formas de ser ignorada sem encontrar qualquer vestígio pelo qual pudesse perceber meus erros e acertos, encantos e desencantos.... Sobrando de forma evidente este Amor pela arte em meio a um desespero momentâneo.

Nas páginas que se seguiram fui saindo daquela amargura, pra encontrar um apuro, um delírio de cores da auto-representação, agudez, força, pensando nas formas distorcidas, nos tons escuros... 
Daí quando hoje me encontro com uma obra sua, por mais difícil que me seja, gosto de fantasiar que ainda vou tomar um café com ela, escrever uma mensagem para que leia posteriormente,..., dar um agrado pq não sei o que fazer com toda a vontade que brota em mim por sua causa, por sua obra.
Aí eu fantasio enquanto deixo ela entrar a seu próprio tempo.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Victor Arruda - das Artes


As pinturas de Victor Arruda são conhecidas por seu erotismo, por sua feitura propositadamente bruta e pela abordagem sócio-política.
Victor Arruda, na década de setenta, participou de coletivas como o “Salão de Verão”, no MAM-RJ (1975) e “Salão Nacional de Arte Moderna (1976)”, quando mostrou obras em que citava, à sua maneira, as revistinhas clandestinas de Carlos Zéfiro. Ele foi o primeiro artista a fazer referência ao já famoso pornógrafo, então apenas conhecido por seu pseudônimo.

Victor Arruda recriava o clima erótico dos desenhos de Zéfiro, mas com uma conotação crítica em que apontava a hipocrisia das relações em que o sexo estava ligado ao poder. Como na pintura “Salário mais justo”, de 1975, em que o patrão se prepara para discutir o salário com a nova empregada que perguntava - já nua à beira da cama - “Pronto Doutor. O que devo fazer?” e ele respondia: “Deita aqui meu bem”. Suas pinturas na década de oitenta abordam a violência e a solidão nos grandes centros urbanos.

O interesse do artista pelas questões sociais o levou a criar e desenvolver com a colaboração de Marluce Brasil - técnica em educação - o primeiro atelier de arte livre da antiga FUNABEM em que juntos examinavam e orientavam meninas com dificuldade de aprendizado assistidas naquele projeto social.

Victor Arruda foi absorvido pelo movimento chamado “Geração 80” e sua pintura foi examinada em textos por Achille Bonito Oliva (o crítico italiano que criou o termo “transvanguarda”), por Frederico Morais, Jorge Guinle, Lígia Canongia, Marcus de Lontra Costa, Reynaldo Röels Jr., Roberto Pontual, entre outros. A partir da década de 90, retomou as antigas pinturas dos anos 70 e, nelas, a maior utilização de textos pintados, sempre atrelados às emoções de alguns momentos de sua vida.

Quem não se recorda do famoso anúncio de jornal que ele mesmo colocou sobre a sua morte? Foi uma comoção só. Tudo não passava de mais um trabalho seu com as palavras. Em 2008, convidado a participar de uma exposição coletiva no Solar Grandjean de Montigny-PUC-RJ, usou uma idéia que lhe surgiu quando, há alguns anos, houve uma revolta de imigrantes no subúrbio de Paris. O então presidente francês, Nicolas Sarkozy (na época ministro do interior da França), disse que aqueles cidadãos de segunda categoria só conseguiam se comunicar com 56 palavras. Victor Arruda chamou 56 conhecidos – de formação, classe social, profissão e idade diversas – e pediu para cada um deles escrever “as suas 56 palavras”, que reunidas resultaram no livro “56 Palavras”.

Em uma outra exposição: "A respeito da corrupção", no fim do ano passado, na Galeria Amarelonegro, Victor também apresentou obras utilizando palavras e frases, neste caso baseadas no escândalo do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Victor aproveitou a deixa e a coincidência do sobrenome para dizer que não era ele.

  Este é um resumo das muitas contribuições de Victor Arruda no campo das artes: polêmico, com boa formação, culto, inteligente e, além de tudo, muito divertido. Estas são algumas características deste artista.

















  • Victor Arruda (1947), natural de Cuiabá (Mato Grosso), erradicado na cidade do Rio de Janeiro desde os 14 anos. Pintor, desenhista e gravador, é graduado em Museologia pela UNI-RIO, atuou como Marchand e Professor. É considerado de "Transvanguarda".






Victor Arruda nasceu em Cuiabá, Mato Grosso em 1974. Professor, desenhista, gravador e pintor. O interesse do artista pelas questões sociais o levou a criar e desenvolver com a colaboração de Marluce Brasil (técnica em educação) o 1° atelier de arte livre da antiga FUNABEM em que juntos examinavam e orientavam meninas com dificuldade de aprendizado assistidas no projeto social.

Na década de 70, participou de coletivas como o “Salão de Verão”, no MAM-RJ (1975) e “Salão Nacional de Arte Moderna” (1976), quando mostrou obras em que citava, à sua maneira, as revistinhas clandestinas de Carlos Zéfiro. Ele foi o primeiro artista a fazer referência ao já famoso pornográfo, então apenas conhecido por seu pseudônimo. Victor Arruda foi absorvido pelo movimento chamado “Geração 80”. Suas pinturas abordam a violência e a solidão nos grandes centros urbanos. A partir da década de 90, retomou as antigas pinturas dos anos 70 e, nelas, a maior utilização de textos pintados, sempre atrelados às emoções de alguns momentos de sua vida. 

Chegou a colocar um famoso anúncio de jornal que sobre a sua própria morte. Reproduzido aqui ao lado. Tudo não passava de mais um trabalho seu com as palavras. Em 2008, convidado a participar de uma exposição coletiva no Solar Grandjean de Montigny-PUC-RJ, usou uma idéia que lhe surgiu quando, há alguns anos, houve uma revolta de imigrantes que vivem no subúrbio de Paris. O presidente francês, Nicolas Sarkozy (na época ministro do interior da França), disse que aqueles cidadãos de segunda categoria só conseguiam se comunicar com 56 palavras. Victor Arruda chamou 56 conhecidos – de formação, classe social, profissão e idades diversas – e pediu para cada um deles escrever “as suas 56 palavras”, que reunidas resultaram no livro “56 Palavras”. Em outra exposição:"A respeito da corrupção", no fim do ano passado, naGaleria Amarelonegro, Victor também apresentou obras utilizando palavras e frases, neste caso baseadas no escândalo do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Victor aproveitou a deixa e a coincidência do sobrenome para dizer que não era ele.

As obras refletem as qualidades do artista Victor Arruda no campo das artes: polêmico, com boa formação, culto, inteligente, sensível as questões que nos tornam humanos e além de tudo, muito divertido. Uma exposição imperdível de um artista incomparável.




















Exposições Individuais

1981 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Anna Maria Niemeyer
1985 - Resende RJ - Individual, no Museu de Arte Moderna de Resende
1985 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Anna Maria Niemeyer
1986 - Brasília DF - Individual, na Fundação Cultural do Distrito Federal
1986 - Rio de Janeiro RJ - Victor Arruda: Pinturas Recentes, na Galeria Anna Maria Niemeyer
1987 - Porto Alegre RS - Victor Arruda: Pintura e Serigrafias, na Galeria Tina Presser
1988 - Roma (Itália) - Individual, no Studio d'Arte Giuliana de Crescenzo
1989 - Rio de Janeiro RJ - Victor Arruda, na Galeria Anna Maria Niemeyer
1991 - Brasília DF - Individual, na Performance Galeria de Arte
1991 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Galeria Anna Maria Niemeyer
1991 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Itaugaleria
1992 - São Paulo SP - Individual, no Subdistrito Comercial de Arte
1995 - Rio de Janeiro RJ - Pinturas, na Galeria Anna Maria Niemeyer
2004 - Rio de Janeiro RJ - Victor Arruda: pinturas, na Galeria Anna Maria Niemeyer
2005 - Rio de Janeiro RJ - Novos Abismos, na Galeria Anna Maria Niemeyer
2005 - Rio de Janeiro RJ - Victor Arruda Desenha, no Espaço Cultural Sérgio Porto

Exposições Coletivas

1975 - Rio de Janeiro RJ - Salão de Verão, no MAM/RJ
1976 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Arte Moderna
1983 - Rio de Janeiro RJ - O Rosto e a Obra, no Ibeu
1985 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Artes Plásticas
1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Mania: desenho brasileiro, na EAV/Parque Lage
1986 - Porto Alegre RS - Caminhos do Desenho Brasileiro, no Margs
1986 - Rio de Janeiro RJ - Território Ocupado, na EAV/Parque Lage
1986 - Rio de Janeiro RJ - Transvanguarda e Culturas Nacionais, no MAM/RJ
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ
1987 - Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro, Fevereiro, Março: do modernismo à geração 80, na Galeria de Arte Banerj
1988 - Rio de Janeiro RJ - Le Déjeuner sur l'Art: Manet no Brasil, na EAV/Parque Lage
1988 - Rio de Janeiro RJ - O Eterno é Efêmero, na Petite Galerie
1989 - Cuenca (Equador) - Bienal Internacional de Cuenca
1989 - Genebra (Suíça) - Hommage à la Declaration Universelle des Droits de l'Homme, no Palácio das Nações da ONU
1989 - Rio de Janeiro RJ - Rio Hoje, no MAM/RJ
1991 - Rio de Janeiro RJ - BR/80: pintura Brasil década, na Fundação Casa França-Brasil
1991 - Rio de Janeiro RJ - Coleção Gilberto Chateaubriand - Arte Brasileira Décadas de 60, 70 e 80, no MAM/RJ
1992 - Rio de Janeiro RJ - 1ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no Paço Imperial
1992 - Rio de Janeiro RJ - Brazilian Contemporary Art, na EAV/Parque Lage
1993 - Niterói RJ - 2ª A Caminho de Niterói: Coleção João Sattamini, no MAC-Niterói
1993 - Rio de Janeiro RJ - Arte Erótica, no MAM/RJ
1993 - Rio de Janeiro RJ - Brasil: Imagens dos Anos 80 e 90, no MAM/RJ
1993 - Rio de Janeiro RJ - O Papel do Rio, no Paço Imperial
1993 - São Paulo SP - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi
1993 - Washington D. C. (Estados Unidos) - Brasil: imagens dos anos 80 e 90, no Art Museum of the Americas
1994 - Rio de Janeiro RJ - O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
1994 - Rio de Janeiro RJ - Sob o Signo de Gêmeos, na Galeria Saramenha
1994 - Rio de Janeiro RJ - The Exchange Show: doze pintores de San Francisco e do Rio de Janeiro, no MAM/RJ
1994 - Rio de Janeiro RJ - Via Fax, no Museu do Telephone
1994 - San Francisco (Estados Unidos) - The Exchange Show: twelve painters from San Francisco and Rio de Janeiro, no Yerba Buena Center for the Arts
1994 - São Paulo SP - Brasil: imagens dos anos 80 e 90, na Casa das Rosas
1995 - Lausanne (Suíça) - Rio: mistérios e fronteiras, no Musée de Pully
1995 - Rio de Janeiro RJ - Anos 80: O Palco da Diversidade, no MAM/RJ
1995 - Rio de Janeiro RJ - Pinturas, na Galeria Anna Maria Niemeyer
1995 - Rio de Janeiro RJ - Rio: Mistérios e Fronteiras, no MAM/RJ
1995 - São Paulo SP - Anos 80: o palco da diversidade, na Galeria de Arte do Sesi
1996 - Rio de Janeiro RJ - Rio: mistérios e fronteiras, no MAM/RJ
1997 - Barra Mansa RJ - O Museu Visita a Galeria, no Centro Universitário de Barra Mansa
1998 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Caetano Veloso, no Paço Imperial
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, no Masp
1999 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Chico Buarque, no Paço Imperial
2000 - Rio de Janeiro RJ - A Imagem do Som de Gilberto Gil, no Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - Aquarela Brasileira, no Centro Cultural Light
2002 - Niterói RJ - A Recente Coleção do MAC, no MAC-Niterói
2002 - Niterói RJ - Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini, no MAC-Niterói
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, no Paço Imperial
2003 - Niterói RJ - Sidaids, na Galeria de Arte Sesc
2003 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Projéteis de Arte Contemporânea, na Funarte
2003 - Rio de Janeiro RJ - Arte em Movimento, no Espaço BNDES
2004 - Rio de Janeiro RJ - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções do Rio, no MAM/RJ
2004 - Rio de Janeiro RJ - Novas Aquisições 2003: Coleção Gilberto Chateubriand, no MAM/RJ
2004 - Rio de Janeiro RJ - Onde Está Você, Geração 80?, no Centro Cultural Banco do Brasil
2005 - Belo Horizonte MG - Coletiva de Acervo 2005, na Galeria Murilo Castro
2005 - Belo Horizonte MG - Corpo-Icono-Grafias, na Galeria Murilo Castro
2005 - São Paulo SP - O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira, no Itaú Cultural
2006 - Petrópolis RJ - Sinais na Pista, no Museu Imperial
Fonte: Itaú Cultural





obs.: os textos foram retirados da web















  • Victor André Pinto de Arruda (Cuiabá MT 1947)
Professor, desenhista, gravador e pintor.
Como membro organizador do grupo Tato e Contato, é responsável pela instalação do primeiro ateliê de Arte Livre destinado a crianças, na Funabem, Rio de Janeiro, em 1977. Em 1982, torna-se organizador do setor infantil na mostra A Margem da Vida e atua como professor de artes plásticas no Instituto Penal Lemos de Brito. A convite de Oscar Niemeyer (1907 - 2012), pinta o painel do foyer do teatro do Memorial da América Latina, São Paulo, em 1989.