domingo, 10 de maio de 2015

Drops de Elis I - Show Falso Brilhante

"(...)
 Uma coisa inusitada aconteceu.
 A lotação da casa era totalmente adquirida por companhias de turismo, que frequentavam ônibus e traziam pessoas de outras cidades para assistir ao espetáculo, depois jantavam e voltavam nesses ônibus, equipados com uisquinho a bordo e tudo o mais. Mas, com isso, o público local não poderia assistir ao espetáculo... se não fossem os cambistas. A confusão na bilheteria do teatro começava logo cedo diariamente. Público e cambistas versus companhias de turismo versus polícia - a ação dos cambistas era sempre reprimida. Eles revendiam os ingressos pelo dobro ou pelo triplo do valor, mas estavam garantindo ingressos para boa parte do público que ia ao teatro comprá-los.

  Um dia, presenciamos um verdadeiro massacre da polícia sobre os cambistas, perante toda aquela gente na fila e no saguão do teatro. No dia seguinte, Elis procurou o chefe dos cambistas, o Silveira, e promoveu uma reunião no saguão do teatro, às 5h da tarde. Firmaram um acordo. Eles comprometeram a não majorar a venda de ingressos em mais de 5% acima da bilheteria, e, em troca, Elis conseguiu uma espécie de alvará para eles. Por mais de um ano, puderam agir ali, livres da perseguição e convivendo pacificamente com as companhias de turismo.

 No dia do aniversário de Elis, estávamos bem no início do espetáculo quando, de repente, ouvimos um barulho enorme, e a porta da entrada do teatro se abriu bruscamente. Paramos. Umas 30 pessoas invadiram a plateia, com os seguranças tentando impedir, e vieram em direção ao palco... trazendo várias corbeilles de flores, um enorme bolo e uma placa de bronze, com os dizeres: para a rainha dos palcos, dos reis do Asfalto. Assinado, Os Cambistas.

 Foi uma festa. Elis dividiu o bolo com eles, com a plateia, com o elenco e, depois de mais de meia hora de interrupção, pediu que todos se sentassem perto do palco, e reiniciamos o espetáculo."

Solo, memórias - César Camargo Mariano


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