domingo, 10 de maio de 2015

O show de todo artista tem que continuar


A galáxia da nação brasileira ficou repentinamente enevoada e sombria: apagou-se a estrela de Elis Regina.

Era uma cantora formidável, dona de um estilo, de uma musicalidade, de uma técnica tão sensíveis que faziam dela, muito mais que uma voz, uma personalidade fortíssima no ambiente musical. (...) Elis era uma dessas artistas marcadas por uma fome insaciável de beleza, numa permanente busca de perfeição. Tinha uma aptidão especial para enxergar aquilo que os outros não viam - e não apenas através de recursos técnicos, como a sua insuperável 'divisão'. Era capaz de transformar em rarefeita emoção aquilo que poderia ser apenas pieguice vulgar; era capa de dar a impressão que pairava acima do comum da humanidade, com suas interpretações de uma cristalina distinção. Sua voz era um dom; um presente dos deuses, que ela resolveu não deixar intocado, e sim burilar, burilar cada vez mais, até a exaustão.

Na área do espetáculo, Elis é a estrela do mais belo e importante show de música popular jamais apresentado no Brasil: "Falso Brilhante", o espetáculo de Miriam Muniz e Naum Alves de Souza, pode muito bem ser considerado como um marco; há o que foi feito antes e há o que foi feito depois desse deslumbramento. O espetáculo tinha a cara de sua protagonista: intenso e profundo, irreverente e malicioso, emocionante e brigão. E, no instante em que colocava na cabeça o elmo de Dom Quixote, o palco se transformava numa síntese entre a cantora e seu inspirador. (...) Viveu num arrastão; como um equilibrista.

Flávio Rangel, na Ilustrada em 20 de janeiro de 1982.
Quase trinta anos depois, podemos dizer que ess estrela brilha, e mui intensamente. Separo aqui algumas matérias que saíram sobre a Pimentinha.



Marcelo, agradeça a Carminha Pereira. Particularmente, exalto a sensibilidade que ela teve ao fazer essa entrevista. Não só competência jornalística, mas também um sacada deliciosa. Consegue transmitir uma fome pelo momento, que até em seu último segundo devora Elis; sem tréguas.


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