domingo, 30 de março de 2014

Registro



Do meu fascínio por registro, tudo que pudesse grafar/gravar/imprimir sempre me encantou. Além da escrita, estes foram alguns baratos que me restaram de tempos antigos e até recentes.



Welcome to Floripa: quanto pela melhor noite?



1 – Floripa sediou o segundo maior evento pré-copa, que está acontecendo aqui no meu bairro. Em uma semana, prestaram um serviço público de “embelezamento” (postes, sinalizações, alargaram ruas) espetacular.
2 – Servia o almoço e no fundo reclamava uma repórter de TV colombiana por não haver orientações para as delegações da Fifa sobre a cidade de Florianópolis e opções de lazer.
3 – Mas o que a repórter não sabia, é que a principal rede de comunicação do sul do país tratou de orientar os turistas.
4 – Além de bares/restaurantes, praias e seus beach clubs.
5 -
6 – Muita gente se revoltou por causa da imagem que o jornal ratifica do Brasil/brasileiro. Mas o que ninguém percebe é que essa capa não diz apenas da gente, como diz do cidadão de ‘primeiro mundo’ também.
7 – Nessa mesma vibe, pensava eu – na época que vi esta reportagem produzida por uma TV Inglesa (http://youtu.be/oCMhL_MVyT4) – que, se os traficantes “se preparam para a Copa”, é pq esse mesmo cidadão super esclarecido e consciente (que tem toda a grana pra torrar numa brincadeira tão cara quanto participar da copa) CON-SO-ME droga. Compra cocaína! Usa pó! Cheira! Fuma! Injeta! O tráfico só se mantém pq tem quem os banque.

ps.1: o jornal pediu desculpas há pouco dizendo que adota uma política de propaganda restritiva e que a aumentará. (o que não é a burrice. Dando um tiro no próprio pé, não conseguem entender que o problema ñ é fazer propaganda do Bokarraxxx, e sim ter explicitado o que eles pensam de verdade a respeito do turismo/copa/mulheres/programas... era isso que deveriam sanar).
ps.2: a foto é do advogado Manoel Menezes.

Tênis para velejar: eu não sei o que vc faz da vida.




 Tem gente que ganha dinheiro o suficiente que poderia comprar um guarda-roupa inteiro só com os últimos lançamentostranquilamente, e ainda postar na rede comentários sobre os problemas do Brasil,…, tão convencido de sua fúria (calcado num passado que na prática da vivência o sujeito mesmo nega), esquecendo que fala tudo da ótica de quem a água não bate no terceiro olho. Estes seguem o rebanho dos que vivem sem saber para que, mas pelo menos ganham muito bem, trabalham com algo que lhe dão um mínimo de prazer e estão na moda.
E tem gente que vive isso profissional e sinceramente, gostando disso com a mesma simplicidade de alguém que gosta de pão com margarina. São aquelas pessoas extremamente finas e delicadas, difíceis de se encontrar no panorama atual.
O bicho mais comum é aquele que vive em uma sociedade capenga que male-male consegue administrar as necessidades primárias de um povo, e que possui um orgulho em fazer publicidade ainda que trabalhando feito um cavalo e desfilando com a camisa comprada: a marca no peito. Variando para aqueles privilegiados que podem passar o dia dentro de um pote de formol só pra manter o rosto de bebê, finais da tarde na academia e a noite numa festinha hype que vai tocar o novo sucesso das rádios ‘americanas’.
Muito desconfiado dessa vontade de fazer propaganda de graça que o cidadão hoje adquiriu, confesso que tinha um problema em circular por esses ambientes transados. Estando na sensacional Floripa (praia, corpos, festas, dinheiro,…) onde a aparência é fundamental (considerando que não há espaços que estimulem outras vivências/experiências de mesmo modo, tão necessário quanto gozar), não encontrava um lugar para se estar de modo descompromissado.
Falando disso com um velho amigo que me recebeu no Rio, loucamente desejando um chá num belo bar da Gloria, não estava muito disposto a discutir esse assunto com o mesmo naquele instante, pois pela cara de estranhamento que fez eu necessitaria de um tempo para expor minha questã. Eu estava mais a fim de matar a saudade de uma pessoa que admiro e que me recebeu da maneira que mais amo.
No avião de volta pra casa fui posto na primeira cadeira (uma cia. que nunca tinha viajado, a melhor até agora por acaso –mas eu não faço propaganda a não ser que eles me paguem). Nunca precisei confirmar o lugar de meu assento num voo, e dessa vez o comissário pediu que o fizesse, coisa que estranhei. Primeiro o fiz esperar: ajeitei minha mala, me sentei e lhe entreguei o bilhete. Confirmado e feliz, voltou a receber os outros passageiros.
Nisso, senta um rapaz que tinha a minha idade, olhos azuis, cabelos enrolados, pele morena do sol; e mais a frente, o passageiro que se esperava para se dar início aos preparativos: um senhor bem conservado, mais por sua extrema simpatia e sedução. Aliás, ambos figuras de uma empatia sem igual: nos cumprimentamos, conversamos sobre trivialidades enquanto um ou outro se ajeitava e tudo ótimo. No entanto, como estava transbordando das experiências que tive no Rio, eu precisava de um pouco de solidão: peguei um livro para dar pulsão a qualquer escrita.
Contudo, era impossível não ouvir a conversa dos dois, principalmente pq ora ou outra eu era puxado para um sorriso ou alguma informalidade. Sem problemas: com o tempo eles se cansaram do meu silêncio. O que me interessa sobre esse encontro?
Bem. Assim que o senhor se sentou, se pode perceber pelas vestimentas que era piloto, quem de cara perguntou ao rapaz loiro se ele gostava de velejar. Recebendo um afirmativo como resposta, rebateu: “Reconheci pelo seu tênis“. Contou que fazia parte de um grupo que velejava em Florianópolis, das dificuldades que se tinha em conseguir o espaço, dos amigos… “O meu pai gosta muito mais de velejar”, “Como se chama?”,”Talvez o conheça”, “Eu comprei um barco, mas como meus filhos não gostam não havia necessidade de se ter e vendi”. “Minha mulher isso”, “eu fui piloto do exército há 30 anos”, “Essa coisa de piloto,…, fazia cada festa com as mulheres um tempo atrás, agora sosseguei”, “Nós temos uma casa no sul da ilha”, blabalbalab.
Nesse momento me veio à cabeça a conversa com meu querido amigo e tb a ‘e-stória com o comissário que há pouco tinha me pedido para conferir meu bilhete (não fazendo o mesmo com os outros dois). Não é que eu estivesse mal vestido ou não tivesse boa aparência, mas eu não tinha o mais fundamental: na minha roupa nada que estampasse alguma marca; nem sequer no meu tênis, camisa ou camiseta (a que estava por baixo era lisa e de ‘cima’ flanela), na minha calça (lisa), cinto (sem escudo ou etiqueta) ou mochila (que era lisa e preta). Ao contrário dos outros dois que através de suas marcas se autonomeavam: na bermuda, na camiseta, o símbolo e nome no tênis. O senhor com o terno, sapato, cinto com escudo, mala ou mochila…
O que confere valor ao homem hoje, um status social? A marca, a roupa que tu vestes, o cartão que tu tens, a bandeira que pertence. E o curioso é que este valor seja descartável e substituível. Descartável e substituível. Substituível e descartável. Usa, gasta, passa e se troca. Em princípio, define nossos lugares ou com quem andamos, de onde viemos. Agora lança essa estrutura para os relacionamentos: amoroso ou amizade, profissional ou potencial, conhecido ou não. Do cara que vc assiste ou lê na internet sobre a morte (sem qualquer incômodo) à mulher com quem teve uma relação íntima.
O que temos nós? O que dizem nossos filmes? Desde A Doce Vida (1960, o jornalista cansado de trabalhar aumentando notícias, correndo atrás de celebridades, que no fundo quer ser escritor) ao Shame (2011, o homem bem sucedido morando em Nova York viciado em sexo, o que cresce com a chegada da irmã)? Bling Ring (jovens que invadem casas de celebridades, roubam pertencem e vendem para amigos e pela internet, quais também ganham fala e projeção) àCinderela (a pobre que casa com o cara que tem status)? E os rolézinhos? O que diz a nossa música? Os clipes? E o que a marca que está no seu peito diz sobre vc? Afinal, que tipo de estrutura vc fundamenta? (para além do belo discurso pronunciado no post da semana, seja pró-fracasso, hedonismo, violência,éissoaíagentetemorgulhodesermeioescrotoYeah! ou pró-bomcidadão,… … …, o que está na sua vivência/factual?)
Lembrei disso ao ver esse vídeo na rede (printscreen): a chamada era sobre um jovem japonês que encantou o público através de sua voz num programa de TV. Quando a mulher lhe disse: pela aparência, não consigo saber o que (vc) faz da vida… e vendo o rapaz com sua camiseta de flanela a esconder qualquer vestígio de marca até mesmo em sua calça… não pude deixar de lembrar do episódio e finalmente escrever sobre isso.



Pistas: eu não estou dizendo que deve-se ser terrorista em relação às marcas, no mais, apenas que devemos sair da cômoda superfície das coisas: desconfie da “boca te beija”, da calça que te cabe, e principalmente, do que lhe agrada!!!