terça-feira, 2 de junho de 2015

O véu



Aquilo foi uma espécie de suruba do carinho: havia um véu suspenso sob aqueles que arrastavam pés pela pista e que, aos poucos, fora caindo acidentalmente e encostando na cabeça de 'nós. Deliciosa ideia que ronda, começamos (entre uns 7) a tocar e usá-lo numa dança coletiva: primeiro a nos enrolarmos, depois enrolando uns aos outros. Tudo num tocar de rostos para sentir como ficava a pele e seu contato friccionado naquele pano. Braços negros, brancos, morenos e cabelos castanhos, loiros, ruivos,...

Depois da espera por alguma brecha (e muitas transas com o véu), já estávamos peritos na brincadeira. Em cada extremo, uma pessoa começava a se enrolar e dançar, de modo que havia um encontro entre as duas na metade. Finalmente, finalmente e finalmente, junto àquele a quem eu desejava, estávamos cobertos dos pés à cabeça, frente à frente. Tão próximos quanto não podíamos evitar, eu lhe disse:
- isso me lembra um quadro, "Os Amantes" do Magritte.
- não lembro, não sei se conheço.
- há um casal... eles tb estão com um pano coberto na cabeça mas se beijando.

Não foi preciso nada mais e nada foi mais preciso que puxar tal pensamento: fizemos Os Amantes numa curtíssima temporada. Desenrolando o véu saindo do intermédio com uma avidez foda, ele tomando primeiro partido, dando um passo e um sinal que algumas canções atrás eu tentava perfurar/encontrar. 
- eu achei que íamos precisar de mais alguns metros desse pano, tava demorando! Respondeu.

Ah... e tem quem ache que estudo e pensamento não seja coisa das maiores diversões.
Aiai.





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